Dalilla Leon.
Artista educadora do CEU
Vila Atlântica.
Liberdade criativa, nata!
Agregar, acolher e não escolher….
Mas quem colocou vocês aqui?
Violência do lugar
e o reflexo no corpo.
Realidade local.
O pertencimento e o não
pertencer.
Como ser artista num CEU que
nunca teve PIÁ?
A proposta não proposta.
Resistência nas situações de conflito.
O que é educar artisticamente? Demanda um tempo mais largo?
Trabalhei a
arte do movimento... A arte de me mover no sentido mais singelo da palavra-
agir em mim mesma. Submergir de si mesmo faz parte, se desestruturar
para se montar outra vez, e outra vez, e outra vez... E a cada dia novo de PIÁ.Começo meu texto a partir da reflexão do texto de Marina Marcondes
Machado- Fazer surgir antiestruturas: Abordagem em espiral para pensar um
currículo em arte. Meu ensaio parte do desdobramento e atravessamentos
relacionados ao seguinte parágrafo:
“Será necessário
experienciar uma espécie de descentramento do lugar do adulto educador. O saber
não pertence ao educador, não reside em sua formação, técnicas e conhecimento;
o saber encontra-se entre ele e seus
alunos. Trata-se de encarnar uma atitude relacional cuja primeira modificação
no ensino da Arte é a lista do “material necessário” para começar a trabalhar:
você e eu!”. (MACHADO, Marina Marcondes.2012).
A DESCENTRALIZAÇÃO DO
SABER: Pensamentos em trânsito.
Há quem diga que para
haver experiências transformadoras é preciso se transformar na própria
transformação, e aprendi no PIÁ que tudo a qualquer momento pode se
transformar, e eu também. Dentro desse processo de transformações do PIÁ se
torna necessário abrir a percepção para a morada do saber eprocurar-se vestir cada
vez mais da realidade do ponto de vista da própria criança, isso faz parte do
interesse nas relações e aproximações.
Vivi na prática que o
educador dentro do processo artístico participa e coordena, mas não é
autoritário nem detém o saber. Problematizar as atividades, indagar as crianças
sobre suas atitudes pensando em uma educação que as leve a reflexão e autonomia
são pontos respeitáveis e também desafiadores, é preciso estar atento e
vigilante sobre nossas atitudes, isso faz parte da nossa auto descentralização,
é um movimento que o PIÁ nos permite- “O PIÁ é o lugar do erro”.
Li uma vez que dentro
da história do teatro, chega um momento em que o palco rasga as suas cortinas
porque quer revelar e questionar a si mesmo quer pensar sua própria função, e
dentro do programa nós somos levados o tempo todo a nos descortinar e revelar
questionamentos de nós mesmos e do nosso ensino enquanto artistas educadoras.
Revelar a potência,
querer menos e deixar ir mais afundo! Há processos que independem de nossa
participação e dos velhos materiais tradicionais.
O Piá é feito do melhor material necessário para se começar a trabalhar:
os artistas e as crianças. É preciso a presença e participação estável
ou transitória delas. O recebimento de uma nova criança é sempre celebrado com
muito boas vindas, e o afastamento de cada uma delas já matriculadas é um vazio
no peito do artista.
Trabalhamos nesse ano de 2015 em cima de uma plataforma flutuante e
instável, sempre estivemos de recomeço, reprogramando, acolhendo, readaptando,
modificando, chamando, propagando... Sempre abertas para novas companhias e
abraços, sorrisos e presença. E essa instabilidade também se fez generosa no
processo de crescimento e desenvolvimento de cada uma de nós do PIÁ Curiá. CEU
novo, equipe nova: Ideias novas!
Atravessada pela citação de Marina Marcondes Machado sobre o material
necessário para se começar a trabalhar, me veio uma identificação muito forte
com a realidade que eu vivia dentro do PIÁ, fui ao encontro dessa proposta da
forma mais vívida e educadora possível. No começo do programa vi-me em um
espaço para a troca onde nosso único material era apenas eu, a parceira artista
e as crianças. Algumas vezes contamos com a ajuda de alguns colchonetes que se
transformaram em coisas, objetos fantásticos emodificaramnossas estruturas em
movimentos, sons, cores, lugares, espaços, planetas...
Cada vez mais evolvida nas propostas do programa, durante as
práticasdiárias vi surgir antiestruturas de minhas experiências, ou as que eu
havia experimentado. Um grande educativo para eu e meu “material”, pois a consciência dentro
das atividades de criação da criança e a ênfase no fazer coletivo oportunizam a
nós artistas anos reconstruir artisticamente.
Nosso fazer artístico diário baseou-se em atitudes de escuta,
estruturando-se com proposições de experiências, a fim de instigar as crianças
a formular suas descobertas e explorar o processo de aprendizagem a partir de
seu próprio conhecimento e reciclar o método tradicional que eles estão
acostumados, uma tarefa desafiante e necessária. Relacionamos aspectos
importantes sobre compreender a arte como educadora por si própria e a relevância
entre o fazer artístico pessoal.
Em suas características as atividades tinham o intuito de apresenta-se
também como um instrumento de análise do mundo, as “brincadeiras” exploravam a
capacidade das próprias crianças em modificar a situação. Em nosso segundo
encontro de famílias no PIÁ Curiá o pai de uma criança nos disse: “A criança
nunca brinca por brincar, na verdade ela está aprendendo, ela está o tempo todo
da brincadeira sendo estimulada pelas situações, assim como vejo que as
brincadeiras do PIÁ sempre têm algo educativo e lúdico”.
Proporcionar o lugar para as escolhas das crianças, das amizades, dos
segredos, das memórias...Proporcionar a mim mesma o lugar das descobertas, dos
desafios, da curiosidade e também dos olhares novos para o dia-a-dia.
“No CEU Vila Atlântica
exercemos o papel de artísticas educadoras como ‘atravessantes’ de
conhecimentos. Atravessamos de um lado para o outro diariamente em nossos
encontros com as crianças saberes e olhares sobre a vida e sobre as coisas.
Testamos de formas criativas elementos que despertem a curiosidade e o
interesse das crianças, e por serem naturalmente muito ativas e curiosas nos
batizamos de equipe CURIÁ, que explicado por elas mesmas quer dizer: curioso,
‘futriqueiro’, observador das coisas alheias, bisbilhoteiro... Somos aqui todos
Curiás de formas de expressão.”
Curiá-Dalilla Leon
(Reflexões de Agosto de 2015).
Dalilla Leon.
Artista educadora do CEU
Vila Atlântica.
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