sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

“Impressões” ou “Efeito da extravasação sobre um corpo” ou “Marca ou sinal em fundo” (AE: Maryah Monteiro – PIÁ Biblioteca Monteiro Lobato, 2015)

Escrevo sobre o que desejo, sobre o que encantadoramente me faz perplexa, me (re)inaugura em uma mitologia íntima, intensa, que se descobre e se desdobra através do contato e da relação de: 
Um grupo de crianças
Uma tchurma
A minha galera
Os meus amigos
Àqueles para quem eu tenho uma admiração profunda


Antes de tudo:
Aceitar o absurdo.
Fundar o mundo de novo.

Esclarecimento enviesado:
Aceitar o absurdo e fundar/inaugurar novos mundos na troca com as crianças, essa tchurma que eu faço parte, potencializam nossa relação. Minha disponibilidade e meu desejo de entrega para deslocamentos, mergulhos e intensidades me aproximam de encontros generosos, de poéticas que sabotam expectativas, que sabotam o próprio entendimento do que se é poética. 
No PIÁ nos deparamos com a experiência do corpo num tempo-espaço que se alarga - a descoberta do sensível - através de trocas e provocações na convivência. Ampliamos a percepção nos processos criativos. Sinto-me assim como artista-educadora e nos grupos que integro como artista: grupo [-MOS] e Teatro de Transeuntes. Procuro um movimento que imprecisa formas estáveis demais. Estou onde sou capaz de expandir, encantar-me. Acredito na arte do inevitável, que não se pode escapar. 

Voltando ao deleite delirante: 
Gosto de raptar palavras e discursos que estão às margens, e ficam ecoando estranhamente por aí. Tento fazer as palavras raptadas caberem na minha boca. Sinto que... parece que precisamos encontrar outras embocaduras, outras caminhaduras (gil em drão, grãos, sementes, semeaduras).

O início tem vários inícios. E este escolho como marca do encontro com minha tchurma: o jogo. 

Definição de jogo por Michaelis Dicionário (escolhi duas):
1. Brincadeira, divertimento, folguedo.
2. Conjunto de regras a observar, quando se joga.

Voltando à marca:
Foi através de muitos e diversos jogos já existentes ou criados, repetidas vezes, que nos descobrimos como grupo, nos espantamos, nos escutamos, nos conhecemos, nos perdemos, nos acolhemos. Teve quem silenciou com o jogo, teve quem quis conhecer o jogo do outro, teve quem entrou no jogo, teve quem escondeu o jogo, teve quem faltou ao jogo... e assim jogamos e trocamos e fomos surpreendidos, atacamos, fomos tocados, tomados por tentáculos do contratempo inesperado. Jogo e afeto.  

Praticamos olhares transversais, paralém do convencionado. A visão para objetos e lugares que proporcionou um sentido mais profundo que a realidade conhecida do objeto e o que ele representa. Extravasamos. Para esta palavra – extravasação – recorro a uma definição analógica por mim inventada como flashbacks, takes rápidos, suspiros, cenas caleidoscópicas, memórias pescadas, piscadelas. 

Extravasação

. descobrir o universo que é próprio de cada criação
. delicado e sublime e horroroso e grotesco
. incomodação
. não superficial
. emoções indisciplinadas que se revelam e se escondem em ondas furiosas
. infinito depósito de coisas transformáveis
. metamorfosear-nos
. abstrações
. jogar-nos no vazio e criarmos novos valores
. sermos terríveis, fatais há há há
. comemorar fracassos
. sopa, salada, mistura em silêncio e amor
. teatro mambembe, itinerante, improviso
. danças coloridas de tecidos flutuantes
. dançar de olhos fechados
. criança criando dança
. ato e defeito de extravasar
. criação desenfreada de perguntas
. não responder perguntas desenfreadas, mas lançá-las a outrem
. romper com o que se pode fazer com facilidade
. não resolver
. produção de catástrofes
. duvidar do que é inquestionável
. ritual
. nutrir, incorporar, testar, experimentar
. valorizar o instante presente
...



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