PÁTIO PIÁ
Pátio de Interação
Artística
Leo Cunha
"Do
verbo latino: Patēo,
v. int. Estar
aberto, exposto; estender-se; abrir-se; estar descoberto;
manifestar-se; ser evidente.”
Pátio PIÁ é uma
paisagem urbana presente na cidade de São Paulo, construída com o
olhar de artistas-educadores. É um espaço para a interação, para
o encontro e a convivência das diferenças. É o contato com
distintas expressões e diferentes maneiras de "agir, pensar e sentir".
Como no significado
do verbo latin Pateo, o ato de estar aberto, de se expor estão
presentes neste espaço. Espaço para o relacionamento e suas
infinitas possibilidades.
O espaço é o Ceu
do Caminho do Mar. Este foi o Pátio de observação, atuação ativa
(e passiva), e da pesquisa para este ensaio que chamo de Pátio Piá.
Gostaria antes de
pensar e investigar com vocês, qual a visão de Pátio que cada um
de nós temos.
Qual a sua primeira
palavra, definição, relacionada a Pátio?
Qual o Pátio da sua
infância? Quanto tempo você usava ele?
Quais as atividades
encontradas no seu Pátio?
Quais outros Pátios,
ou espaços públicos de socialização que você conhece e que podem
ser comparados com a visão de Pátio?
O Pátio em
equipamentos Ceus existem.
É um cenário particular, talvez não tão evidente, mas que está
ali, dividindo com outro cenário também muito particular que é a
Escola do Ceu, constituída dos ciclos de Educação Infantil,
Fundamental, Médio e Universidade Aberta.
Em 2015 no Ceu
Caminho do Mar, o Piá veio a participar e atuar também neste
cenário, junto e na EMEF deste Ceu. A equipe formada neste ano, na
verdade foi uma dupla, foram eu e a Artista Educadora Carolina
Bagnara, que então atuamos com exclusividade para duas turmas desta
Emef, uma com alunos do 3ºano e outra com alunos do 4º ano.
Essa parceria do Piá
com a escola do Ceu, com turmas exclusivas da escola, não
aconteceram em todos os equipamentos. Porém esse modelo não é
inédito. Vale lembrar que em 2004 com o projeto EMIA nos Ceus,
embrião do que se tornaria Piá, atendia exclusivamente crianças da
própria escola do Ceu, CEI e EMEF. A exemplo disso, foi quando atuei
no Ceu Perus neste mesmo ano.
Esse breve panorama
que compartilho aqui, serviu então para voltar meu olhar e perceber
de que maneira os alunos da Emef atuam neste equipamento quando não
estão nas salas de aula, ou quando não estão em aula. De que forma
eles usam os espaços da escola, do Ceu, quando não estão em aula?
Sendo assim, o que
percebi primeiro foi essa própria diferença de espaços e o
comportamento das crianças. O espaço da aula, a sala de aula, onde
os alunos são “obrigados” a estarem e a fazerem suas tarefas. E
o que é fora da sala de aula, ou seja o Pátio, onde o aluno não
tem obrigação de tarefas e o espaço e tempo são dissolvidos.
Dessa forma percebi
que o espaço no qual o Piá atuou, fora do tempo e espaço de aula,
é o que irá determinar a nossa relação com as crianças,
observando as diferentes formas de atuar das crianças e como elas se
relacionam entre elas e com o espaço. Podemos dizer também que o
Piá vai meio que na contra corrente de um espaço e tempo
determinados, assim como encontramos no âmbito da educação formal,
como a Emef, por exemplo. O Piá está muito mais para o tempo e
espaço do “recreio” que o da aula. Está mais para o tempo e
espaço do lazer e espontaniedade de cada criança.
Nosso primeiro
Pátio, o Pátio interno de uma sala de aula da Emef
No fundo do corredor
a sala. Carteiras e cadeiras esquecidas, cansadas, acenam bom dia.
Abraço uma por vez e as levo para os cantos, uma sobre as outras.
Abro um Pátio. A janela no comprimento da sala com um sorriso de dez
metros. Olho e nesse sorriso a paisagem do Caminho do Mar.
A rede no meio da
quadra é verde, de cadeiras cansadas verdes de plástico
A tabela é formada
por uma caixa de papelão aberta dos dois lados grudada ao alto no
quadro branco
Começa o jogo
Termina a aula
O Piá 2015 no Ceu
Caminho do Mar começou os encontros com as crianças em uma sala da
Emef que é considerada uma sala Multiuso. Assim era chamada esta
sala. Ela é igual a qualquer outra sala do prédio da escola com
muitas carteiras, lousa, e nesta havia muitos livros escolares
amontoados nas paredes da sala. Um espaço apertado, meio depósito,
meio sala de aula.
As crianças de duas
turmas do Piá faziam os encontros aí. Essa turmas eram formadas
somente por alunos da Emef. Ou seja, era um espaço já bem conhecido
das crianças. Para elas, já não havia novidade alguma nesta sala,
neste espaço. Um espaço restrito, viciado, cansado e triste. E ao
meu ver o espaço determinava muito na forma como as crianças se
relacionavam com ele e também a maneira como elas se relacionavam
umas com as outras.
Sendo assim, vimos
como um desafio essa relação do espaço escolar e a relação que
as crianças constroem com ele. Sabendo que elas ainda estarão por
mais alguns anos neste ambiente, de que forma poderíamos então dar
essa percepçao em torno das crianças e provocar movimento, mudança?
Como dar outro sentido, outro olhar para o espaço que as crianças
habitam na escola?
O Pátio Externo
O Ceu passava por
reformas. Piscinas, salas e quadra do Bec ( Bloco Esportivo Cultural
) estavam interditados. Não era possível naquele momento ter uma
sala específica para o Piá para realizar os encontros, por conta
destas reformas. Tínhamos também em uma das turmas falta de
inscrição e participação das crianças. O horário colaborava
também para que isso acontecesse. Das 11h às 13h. Horário de saída
e de entrada.
Sendo assim, uma das
maneiras que nós Aes percebemos para dar sentido a esta turma foi
estar presente no lugar de passagem, neste horário de entrada e
saída de pais e crianças.
Esse foi o lugar
ideal para a construção do Pátio Piá. Um lugar do encontro, da
troca, da convivência. Um lugar também, tomando emprestado do
significado latim de Pateo, um lugar para se expor, para abrir-se e
descobrir-se.
Estes encontros
foram de um desafio maravilhoso. Se por um lado não tínhamos sala e
poucas crianças, somente três, por outro tivemos que estar presente
nos lugares onde havia movimento. E também deveríamos criar
presença, para que de alguma forma pudéssemos instaurar um processo
naquele tempo espaço.
Começamos aos
poucos, nos relacionando de forma passiva com o espaço e com as
pessoas, crianças, alunos, pais, funcionários do Ceu que ali
transitavam neste momento, na área externa do Ceu, a céu aberto. Na
verdade, nós Aes éramos as pessoas novas que passavam a frequentar
este Pátio. Afinal de contas chegamos tarde, em junho, quando o Piá
ainda está no início. Logo, pela própria rotina, e talvez pela
característica de artista educador, todos começaram a notar o
porque e com qual finalidade estávamos ali.
A forma como
descobrimos para atrair principalmente a curiosidade das crianças
foi de uma maneira bem natural, nos relacionando de forma indireta,
simplesmente conversando e em seguida nos relacionando de uma maneira
mais ampla, nos expondo ao que estava acontecendo ali entre elas, nos
seus diálogos e na forma como elas se expressavam, principalmente
pela brincadeira, pelo jogo.
Conforme os
encontros aconteciam, as crianças começaram a perceber a nossa
presença e passaram a nos aguardar para estes encontros. Um grupo de
crianças enquanto esperavam sentadas o transporte escolar, agora
passava a nos mostrar que o tempo de espera poderia ser bem
aproveitado quando estão se relacionando umas com as outras através
de suas brincadeiras preferidas, com a colaboração e organização
dos AEs. As crianças que chegam para o período escolar da tarde,
passaram a chegar mais cedo para encontrar com nós. E as crianças
da manhã que estavam de saída ficavam um pouco mais para continuar
a brincadeira. Os pais, funcionários, seguranças, também passaram
a olhar de outra maneira para este momento. As crianças neste
momento, talvez por “segurança” e “controle” feitos pelos
funcionários, não podiam muita coisa. Coisas simples como correr,
se pendurar nas barras de ferro, subir nos bancos eram um pouco
delimitado pela equipe de segurança do Ceu. Não é uma crítica em
relação a empresa e equipe de segurança do Ceu a forma como eles
atuaram. Na verdade, somente percebemos que não havia um diálogo de
educador com as crianças e não havia observação na maneira como
elas se relacionavam.
Neste breve período
nós AEs fomos participando dessa rotina do equipamento e aos poucos
interagindo com todos que passavam neste Pátio. Despertamos
interesse por parte das crianças e adultos, pais e funcionários. A
ideia principal ao meu ver é de fazer parte de algo que é de todos.
Democratizar o espaço, o bem material e conhecimento para toda
comunidade. Estar presente na vida e na rotina do equipamento,
criando o bem-estar. Como artistas, criamos então um ambiente que
proporcionou o encontro, convivência, interagindo através de
atividades que combinaram múltiplas expressões, com o intuito
principal de valorizar as pessoas e o seu entorno, respeitando e
estimulando a autonomia, a interação e o contato com expressões e
modos diversos de "agir, pensar e sentir".
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
-Pequeno
Dicionário Latino-Português. São Paulo, Companhia Editorial
Nacional, 3ª ed., 1950. p. 1324;
-VIGOTSKI, L, S. A construção do pensamento e da linguagem, São Paulo: WMF Martins Fontes, 1934/2009
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