No
dia em que abandonei os meus princípios...
Meu
peito se encheu de inícios.
Artista Educadora:
Paula Barison
Equipamento: Teatro
Flávio Império
Em meu primeiro ano de PiÁ (2014) estive presente como
artista educadora no Centro Cultural da Penha, com uma equipe quarteto incrível
tendo a chance de atuar em um equipamento onde já existia PiÁ anteriormente.
Esta vivência me proporcionou uma primeira impressão fantástica do programa,
onde me senti honrada e nunca antes tão feliz com toda experiência que havia
adquirido até então.
Então chegou dezembro e, junto a ele, a insegurança do
não saber se esta extrema alegria teria continuidade no ano seguinte. Tudo
correu bem e, novamente me senti plena ao saber que havia sido selecionada.
Porém, ao chegar ao momento da escolha do equipamento, acabou que fui parar em
um equipamento novo, recém-reinaugurado, primeiro ano de piá e, para minha
surpresa... Trabalharíamos em dupla nesta edição.
Todos aqueles princípios que havia criado com a primeira
impressão que tive se abalaram, estremeceram e começaram a ruir dentro de mim.
Várias dúvidas e questionamentos pairaram em minha mente durante o período de
espera entre a contratação e o início dos encontros... Equipamento novo? Mas
vai ter criança? Só uma dupla? Quem será a minha dupla? Como trabalharemos sem
coordenação na equipe? Como funcionarão as reuniões de equipe se somos somente
dois? E todas as trocas que aconteciam com o quarteto? Que? Quem? Quando?
Onde?...
E assim seguiram as semanas seguintes até o dia do nosso
primeiro encontro de equipe na Galeria Olido, onde descobri que nossa
coordenadora, a Isabelle, seria responsável por três equipamentos compostos por
duplas, chegamos juntos à conclusão que seria muito produtivo se todas nossas
reuniões de sexta feira fossem feitas juntos revezando os locais, o que me
deixou ansiosa e curiosa para conhecer mais a nossa equipe composta de pessoas
incríveis e interessantíssimas.
Depois de todos esses começos, seguimos para os reais
inícios que seriam os encontros com as crianças. Qual não foi nossa surpresa ao
chegarmos ao Teatro Flávio Império e sermos recebidos com todos os braços,
cabeças, olhos, ouvidos e sentidos abertos por todas as pessoas que integravam
a equipe maravilhosa do Teatro?
Apresentações feitas, mais algumas dificuldades
apareceram a nossa frente. Por conta de ser um equipamento novo, não tínhamos
nenhum tipo de material, ninguém na comunidade em volta conhecia o programa, o
Mauro (meu parceiro/dupla) também não conhecia o programa.
Enxergando este panorama geral como uma pintura que
encontramos à nossa frente no início da edição 2015, sentamos, eu e o Mauro,
para pensarmos como interagiríamos com a situação.
Decidimos respirar fundo e resolver uma coisa de cada
vez. Ter ou não material, sermos dupla ou quarteto, conhecermos à fundo o
programa ou não sabermos nada... Nada disso importava se não tivéssemos adesão
das crianças da comunidade.
Então fizemos uma reunião com os Jovens monitores que
toparam nos ajudar com um mapeamento das escolas da região... Ligamos para
todas elas e fomos a todos os condomínios em volta entregar panfletos, sem
muito tempo para isso, pois na mesma semana já começariam os encontros.
Primeiro encontro de cada turma. Como ainda não tínhamos
muitas inscrições, decidimos convidar os pais para participar da primeira
metade do encontro junto com as crianças. O que, mais tarde, percebemos que foi
a melhor coisa que fizemos. Trouxemos os pais para dentro do programa,
apresentamos de forma lúdica, conversamos sobre a história do Piá, e debatemos
com os pais como seria este início no bairro do Cangaíba. Com isso nossas
turmas rapidamente foram enchendo e, percebemos que a maioria das crianças
vinha por indicação das que já estavam, até que em menos de dois meses de
encontros todas as turmas já estavam lotadas e com lista de espera.
Com o passar do tempo começamos a perceber que a
“dificuldade” em ser dupla, na verdade tornou-se uma importante peça para
criarmos esta relação mais próxima com as crianças e famílias. Por ser um
bairro pequeno, a maioria das crianças de todas as faixas etárias se conhecem e
brincam juntas ou, são até da mesma família. A presença constante dos mesmos
artistas educadores trouxe uma sensação de confiança para os familiares. E
também para nós, pois podíamos ter um panorama mais completo sobre a situação
de todas as crianças que frequentavam o equipamento.
A relação que foi estabelecida entre nós artistas
educadores, equipamento e comunidade foi bem estreita e acolhedora de todas as
partes. É imensurável a importância sócio cultural que o Teatro trouxe para
aquele local em poucos meses. Trabalhamos em conjunto durante esses 8 meses
como se já trabalhássemos há anos.
Agora falando sobre nossa equipe. As reuniões se
iniciaram, fazíamos rodízio de equipamento, mas sempre com os 6 artistas
educadores e a Coordenação. Eu enxergo a troca entre artistas educadores que
não estão atuando na mesma turma como base fundamental do programa e, a
possibilidade de isso não acontecer por estarmos em dupla me assustava.
Com o passar do tempo fomos percebendo a extrema riqueza
que nossas reuniões em conjunto traziam e, elas foram tornando-se essenciais e
indispensáveis. Beth e Débora no Céu Tiquatira, Guilherme e Kaloni no Centro
Cultural da Penha, eu e Mauro no Flávio Império. Equipamentos tão próximos em
termos territoriais e tão distantes socialmente. Nos apoiamos, ensinamos,
aprendemos e nos atravessamos mutuamente durante todo o período da edição de
2015.
Durante esses intensos 8 meses, muitos de meus princípios
foram desconstruídos e assim permanecerão pois, ao respirar fundo no PiÁ 2015,
não mais me perturbarei com quaisquer mudanças e sim encherei meu peito fundo e
me banharei em todos os inícios que encontrar pela frente. Para termos o
privilégio de estar constantemente com essas crianças, precisamos sempre
desconstruir nossos pilares dos conceitos.
Assim, termino meu ensaio dizendo que neste ano
finalmente sinto que cheguei em casa depois de uma longa viagem em busca deste
lugar.
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