(Cabe aqui não generalizar)
por Alexandre Mandu
Da agonia de um corpo puritano, condicionado à normas e regras claras que o transpassa e limita a ser o que se não é, há a força da existência, que do alto de sua essência, transfigura o infante a ser dele, ele mesmo.
Criança foi feita para brincar, sorrir, se expressar, sonhar... O desenvolvimento infantil está muito ligado à criação e aos estímulos recebidos ao longo do crescimento do indivíduo. Todos passamos por essa fase, todos tivemos, e temos, momentos de descoberta e aprendizado importantes para um desenvolvimento sadio e integrado às normas morais e éticas de convívio social.
O problema, de certa maneira grave, são as culturas familiares que vão impondo condições que desfiguram o que seria um desenvolvimento sadio, e à medida em que o infante cresce, cresce com ele a ideia de que sua vida depende de todos os atributos os quais seus pais, irmãos e familiares estão condicionados. E a cultura do consumo acaba se tornando um dos fatores mais agravantes nessa etapa de vida.
Em um mundo plenamente corporativo, de poucas alternativas, e altamente globalizado, fica claro que o consumismo torna muitas classes reféns dessa cultura de dependência de produtos e serviços que vendem conforto a qualquer custo, qualquer custo mesmo! Os países de cultura ocidental, inseridos a essa cultura da mídia, estabeleceram metas de consumo individual que, estrategicamente, aprisionam cada indivíduo a desejos de ter e poder muitas vezes ilusórios que os façam sentir-se bem diante de produtos, sejam lá quais forem, cores, modelos e quaisquer atributos que seduzam o consumidor, conquistando seus gostos e desejos. A condição humana aí é integral e quase irreversível.
Com a criança não é diferente. A indústria infantil no mundo é imensa, e a ideia de produtos e acessórios específicos para cada idade, tamanho, gênero e até etnia, alimenta e engrandece essa cultura que acaba escravizando até os pequenos, em sua consciência e mão de obra, de verdade, pois segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT) 168 milhões de crianças são submetidas a trabalhos em condições exploratórias. Um absurdo e abuso indecente contra a infância.
A criança vem ao mundo isenta de ambições e condições, seus sentidos são voltados ao conhecimento e domínio de suas habilidades que, com o passar do tempo, vai se estilizando e moldando de acordo com o que o mundo lhe oferece e suas vontades de participar ou não disso.
Criança nasce arte. Nasce matéria prima. E quando estimulada a desenvolver suas aptidões, expressões e anseios, cresce menos condicionada e de maneira menos turbulenta, livre das doenças do milênio.
Nascer criança e viver criança de maneira livre e espontânea, sem determinações sobre suas habilidades e afinidades é obviamente mais saudável, para o indivíduo e para o mundo.
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