"Ensaio pesquisa ação- PROGRAMA DE INICIAÇÃO ARTÍSTICA”
* Felipe Gregório
A
partir da observação entre práticas artísticas que ocorreram em uma biblioteca
e em uma escola pelo programa (projeto) PIÁ onde acompanhei como artista
educador este ano, uma primeira inquietação surge como questão na tentativa de
refletir sobre as experiências e processos criativos nestes dois espaços.
A
pergunta que se faz e que representa o objeto de pesquisa- ação deste ensaio
seria a de como instaurar espaços- ambientes onde a
vivência através de processos criativos seja por meio de encontros que
considerem a ‘fluidez e a permeabilidade’ (COELHO, 2012) entre experiência,
iniciação e ludicidade, elementos para novas aproximações transversais entre
arte e infância em contextos educativos?
Pois considerar o ‘encontro’ uma proposta pedagógica
e uma prática artística o lugar da criação do conhecimento e da inventividade
onde crianças e artistas estabelecem proposições e coautorias é situar a
experiência como condição para o aprofundamento sobre o objeto investigativo
através de iniciativas e processos que gerem autonomia.
Desta
forma, penso que talvez seja significativo apresentar alguns problemas como
índices e identificá-los por conceitos.
Com
isto, situa-se a prerrogativa do ‘encontro’ como conceito na tentativa de
apresentar este espaço- lugar, do acontecimento, onde as práticas artísticas
estariam mais próximas daquilo que o brincar pode ser para a criança: um estado
de sonho, êxtase!
De
outro modo, pude perceber que para a instauração deste acontecimento se dar de
forma significativa é preciso que os participantes estejam em plena sintonia
com os vários deslocamentos: de olhares, gestos, e pulsações vividas e
intencionadas em função destas experimentações. Daí sim, podermos falar em
apropriação do conhecimento ou das vivências simbólicas- reflexivas.
Outro
ponto que surge quando consideramos o surgimento (instauração) destes
encontros, ou seja; de que forma, ou em que momento, artistas e crianças estão
pré-dispostos para trocar experiências e construir afetos poéticos, é perceber
o potencial (ou o problema) sutil que já existe neste espaço-ambiente de
encontro.
Assim,
seria a partir de um olhar sobre certas ‘espacialidades’ entendidas como: 1) o caminho daqueles que 'batem asas', 2) Lugar que espera ser habitado, 3) Está
para o tempo assim como um ato ou efeito dinamiza uma ‘borda’, 4) Qualidade (qual-
idade?) do brincar/sonhar; que as experiências lúdico-artísticas poderiam se
encontrar em tempos comuns considerando que os processos iniciativos em arte e
também para o brincar, se encontram intimamente ligados nos vários ‘tempos’
poéticos que compõe o coletivo partícipe de determinadas ações culturais.
Ou seja; significa dizer que estas aproximações entre espaços que geram
encontros e encontros que necessitam de novos espaços, pressupõem pensar sobre
potencializar determinados gestos- intenções como objetos estéticos dentro das
experiências lúdicas- poéticas. Cabe dizer, que é somente no acontecimento da experiência
que podemos vivenciar certas proposições estéticas sem tentar rotulá-las a
partir do conhecimento histórico dos movimentos artísticos.
Com isto, seria preciso entender que as proposições criadas pelos
artistas educadores, e também pelas crianças, são antes de tudo, anseios que
necessitam de um lugar neste espaço comum que chamamos manifestação artística.
Na
tentativa de contextualizar alguns processos para a ampliação de conceitos,
como a ideia de ‘encontro’ que fundamenta as práticas artísticas no PIÁ, pude
ver que em vários momentos (e por isso mesmo que se preferiu refletir sobre as
práticas processuais e metodológicas ao invés de experiências e ações) a noção
de encontro coexiste na intermediação daquilo que se têm para aquilo que pode
vir a ser: a execução de um plano, potencializar uma proposição, o cuidado ao
tempo de experimentar, etc.
Enfim,
penso ainda que é a noção de encontro surgida como poética alinhada com os
vários ‘climas’ que existem nos espaços, o caminho para se vislumbrar o
pensamento espacial que orienta as práticas dos artistas educadores e também o
movimento disparador de sinergias que vive no ato do brincar das crianças.
Contudo,
e ainda mesmo com várias inquietações e suspiros penso que o que fundamentaria mesmo o conceito de encontro como um modo de ativar
as substâncias que fazem vibrar nossos sentidos, é a relação que temos com as
coisas que fazemos e os laços que criamos antes e durante os processos, que só
podem se manifestar ativamente quando preexiste em cada partícipe as condições conforme
diz Simmel (2008) sobre o caminho do interpretante em direção a si mesmo; onde
estabeleceriam de forma circular as cadências entre o processos artísticos, tempos e espaços que podem existir continuamente nas
vivências entre a arte, a ludicidade e a educação.
*Artista Educador- Biblioteca Padre José de Anchieta; Emef Henrique R.D. Fontenelle.
REFERÊNCIAS
COELHO,
Teixeira. Fluidez e Permeabilidade.
(Palestra oferecida no curso de Especialização em Políticas Culturais) SP, Itaú
Cultural, 2012.
SIMMEL, Georg. De la Esencia de la Cultura. Buenos
Aires, Prometeo Libros, 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário