quinta-feira, 20 de novembro de 2014

SOBRE ENCONTROS, EXPERIÊNCIA, E ESPACIALIDADE: Caminhos para a Proposição de Ações Culturais


"Ensaio pesquisa ação- PROGRAMA DE INICIAÇÃO ARTÍSTICA”
* Felipe Gregório
 
A partir da observação entre práticas artísticas que ocorreram em uma biblioteca e em uma escola pelo programa (projeto) PIÁ onde acompanhei como artista educador este ano, uma primeira inquietação surge como questão na tentativa de refletir sobre as experiências e processos criativos nestes dois espaços.
A pergunta que se faz e que representa o objeto de pesquisa- ação deste ensaio seria a de como instaurar espaços- ambientes onde a vivência através de processos criativos seja por meio de encontros que considerem a ‘fluidez e a permeabilidade’ (COELHO, 2012) entre experiência, iniciação e ludicidade, elementos para novas aproximações transversais entre arte e infância em contextos educativos?
 Pois considerar o ‘encontro’ uma proposta pedagógica e uma prática artística o lugar da criação do conhecimento e da inventividade onde crianças e artistas estabelecem proposições e coautorias é situar a experiência como condição para o aprofundamento sobre o objeto investigativo através de iniciativas e processos que gerem autonomia.
Desta forma, penso que talvez seja significativo apresentar alguns problemas como índices e identificá-los por conceitos.
Com isto, situa-se a prerrogativa do ‘encontro’ como conceito na tentativa de apresentar este espaço- lugar, do acontecimento, onde as práticas artísticas estariam mais próximas daquilo que o brincar pode ser para a criança: um estado de sonho, êxtase!
De outro modo, pude perceber que para a instauração deste acontecimento se dar de forma significativa é preciso que os participantes estejam em plena sintonia com os vários deslocamentos: de olhares, gestos, e pulsações vividas e intencionadas em função destas experimentações. Daí sim, podermos falar em apropriação do conhecimento ou das vivências simbólicas- reflexivas.
Outro ponto que surge quando consideramos o surgimento (instauração) destes encontros, ou seja; de que forma, ou em que momento, artistas e crianças estão pré-dispostos para trocar experiências e construir afetos poéticos, é perceber o potencial (ou o problema) sutil que já existe neste espaço-ambiente de encontro.
Assim, seria a partir de um olhar sobre certas ‘espacialidades’ entendidas como: 1) o caminho daqueles que 'batem asas', 2) Lugar que espera ser habitado, 3) Está para o tempo assim como um ato ou efeito dinamiza uma ‘borda’, 4) Qualidade (qual- idade?) do brincar/sonhar; que as experiências lúdico-artísticas poderiam se encontrar em tempos comuns considerando que os processos iniciativos em arte e também para o brincar, se encontram intimamente ligados nos vários ‘tempos’ poéticos que compõe o coletivo partícipe de determinadas ações culturais.
Ou seja; significa dizer que estas aproximações entre espaços que geram encontros e encontros que necessitam de novos espaços, pressupõem pensar sobre potencializar determinados gestos- intenções como objetos estéticos dentro das experiências lúdicas- poéticas. Cabe dizer, que é somente no acontecimento da experiência que podemos vivenciar certas proposições estéticas sem tentar rotulá-las a partir do conhecimento histórico dos movimentos artísticos.
Com isto, seria preciso entender que as proposições criadas pelos artistas educadores, e também pelas crianças, são antes de tudo, anseios que necessitam de um lugar neste espaço comum que chamamos manifestação artística.
Na tentativa de contextualizar alguns processos para a ampliação de conceitos, como a ideia de ‘encontro’ que fundamenta as práticas artísticas no PIÁ, pude ver que em vários momentos (e por isso mesmo que se preferiu refletir sobre as práticas processuais e metodológicas ao invés de experiências e ações) a noção de encontro coexiste na intermediação daquilo que se têm para aquilo que pode vir a ser: a execução de um plano, potencializar uma proposição, o cuidado ao tempo de experimentar, etc.
Enfim, penso ainda que é a noção de encontro surgida como poética alinhada com os vários ‘climas’ que existem nos espaços, o caminho para se vislumbrar o pensamento espacial que orienta as práticas dos artistas educadores e também o movimento disparador de sinergias que vive no ato do brincar das crianças.
Contudo, e ainda mesmo com várias inquietações e suspiros penso que o que fundamentaria mesmo o conceito de encontro como um modo de ativar as substâncias que fazem vibrar nossos sentidos, é a relação que temos com as coisas que fazemos e os laços que criamos antes e durante os processos, que só podem se manifestar ativamente quando preexiste em cada partícipe as condições conforme diz Simmel (2008) sobre o caminho do interpretante em direção a si mesmo; onde estabeleceriam de forma circular as cadências entre o processos artísticos, tempos e espaços que podem existir continuamente nas vivências entre a arte, a ludicidade e a educação.
*Artista Educador- Biblioteca Padre José de Anchieta; Emef Henrique R.D. Fontenelle.
 
REFERÊNCIAS
COELHO, Teixeira. Fluidez e Permeabilidade. (Palestra oferecida no curso de Especialização em Políticas Culturais) SP, Itaú Cultural, 2012.
SIMMEL, Georg. De la Esencia de la Cultura. Buenos Aires, Prometeo Libros, 2008.
 

 

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