segunda-feira, 17 de novembro de 2014

o brinquedo comprado X o brinquedo criado = brincar

o brinquedo comprado X o brinquedo criado
=
brincar
Marcela Costa

No encontro do dia 21/ Outubro as Piás L. Andrade e A.C Barbon trouxeram uma Caixa Registradora da Barbie. Chegaram empolgadas e com muita vontade de mostrar como funcionava o brinquedo, pois já o arrancava da sacola enquanto se aproximava. Fiquei com uma cara de sem saber o que fazer. Não sabia se esperava com que elas me apresentassem o brinquedo ou me oferecia para conhecê-lo. 
O brinquedo trazia o seu dinheiro e os seus produtos. Os produtos estavam estampadosem etiquetas de papelão que traziam de maquiagem a patins. A máquina tinha um aparelho semelhante ao leitor de código de barras dos supermercados, em que dava o preço que quisesse para qualquer objeto que o aproximasse. Inclusive o corpo
É fundamental compreender, que o conteúdo do brinquedo não determina a brincadeira da criança. Ao contrario: o ato de brincar (jogar), é o que revela o seu contúdo. (ALMEIDA, 1998)
 

Durante a aproximação ao brinquedo, a S. Costa sugeriu comprar livros e o livro mais caro registrado na máquina seria lido. A L. Andrade gostaria de ficar apenas como a Caixa enquanto nós três comprávamos. Propusemos que ela fosse uma das compradoras e no momentoem que passássemos as compras ela tornaria ser a Caixa, como se estivesse retornado de uma folga. A L. Andrade articulou dizendo que no prédio dela, elas brincaram com 03 pessoas e ela ficou sempre como a Caixa, ou seja, duas compravam e uma recebia os pagamentos. Tornamos a justificar que éramos três pessoas comprando, o ideal era que todos pudessem comprar e receber os pagamentos, e que comprar livros demoraria um tempo, deixando a personagem do Caixa esperando. A L. Andrade topou, mas com certo incomodo. E ao separar o dinheiro para cada uma, vi que os mesmo chamavam-se dólar market da Barbie. O que me fez propor a elaboração de novas cédulas e moedas. 
Absorvida pelo brinquedo (roupagem), a criança não joga mais, não explora, não cria e nem representa concretamente o seu pensamento, valores, mas torna-se objeto do verdadeiro objeto. (ALMEIDA, 1998)

 


Levando em consideração as citações de Almeida (1998), o ato de brincar, seja ele com brinquedo ou não, a criança “transcende a cultura de seus pais no processo de apreendê-la, reconstruindo as experiências adquiridas em seus espaços físicos, inventando novos cenários para exercer o seu faz-de-conta e criando novas funções para os objetos que lhe são oferecidos.” (CONTI, 2001). Neste sentido, discordo desse ultimo ponto de vista dado porAlmeida (1998) como um objeto de alienação. Não se descarta essa possibilidade, mas a defesaé para o imaginário trazido por Conti (2001), em que há comunicação entre a criança e o brinquedo comprado no ato de brincar e que desse processo, a mesma possa elaborar suas relações sociais e culturais. Diante da interferência. As duas piá, pareceram, decepcionadas e ficaram de cochichoEu me aproximei e perguntei se haviam ficado chateadas. Elas disseram que nãoEntão, as convidei para fazer os mais dinheiros para a brincadeira. Elas não toparam. Iniciei a confecção do dinheiro, muito simples, cortei folhas de sulfite, e com a canetinha riscava os valores e desenhava os presidentes do dinheiro. Ficaram um tanto arredias no início, mas viram que as notas poderiam ser simples, coloridas, carimbadas com diversos desenhos e valores, e ainda fizemos cartões e malotes para guardar as cédulas e moedas.


                      

A elaboração do dinheiro, brinquedo criado, foi uma busca por satisfação/ desejoApossibilidade de ressignificação do brinquedo comprado? ou ainda, A criança respondeu, mais uma vez,  a um ambiente estruturado pelo adulto? Acredito que houve uma satisfação por ser capaz de criar outros objetos, e de ressignificação do mesmo, pois ele foi capaz de dialogar com o imaginário. O adulto, criou um ambiente, a partir de sua cultura, ideais, para que ambos pudessem se  comunicar. E neste caso, a ideia desse ambiente foi transcender as regras dada pelo brinquedo comprado. Abrir suas possibilidades de utilização. 
A Caixa Registradora da Barbie esteve num movimento de troca com quem a jogaA criança inicialmente joga; investiga; comunica com o seu próprio corpo e em seguida com os objetos do meio, neste sentido, o brinquedo será parte inerente a ela, inclusive na vida adulta(ALMEIDA, 1998)Por exemplo, a caixa registradora é uma imitação de um caixa de mercado. O brinquedo possibilita a sensação de estar cobrando e recebendo num caixa de supermercado, porém ele já possui forma, cor, textura, regras e etc ao contrário de um brinquedo criado, em que a criança sabe monta-lo e desmonta-lo, escolheu as cores, os materiais e como brincará com ele.
A brincadeira durou 3 horas e o brinquedo não utilizado. O que me surpreendeu. As meninas se divertiram em fazer o próprio dinheiro e acrescentar possibilidades ao brinquedo, pois conversavam sobre fazer em casa, novas cédulas, e aproveitaram para levar algumas moedas de caixa de leite para tentar fazer. Portanto, no encontro do Piá a criança se sentiu livre para apresentar um objeto que faz parte do seu dia-a-dia. Carregado de sentidos imaginários. Eeu, como adulta, carregada de pensamentos e crenças em relação ao ambiente/ culturacom pré-conceitos diante do brinquedo foi possível criar um canal de comunicação, sem necessariamente, apresentar, verbalmente, as minhas questões.

ESPIADAS EM

ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica. Editora Loyola, 1998. Cap. 02 p.36,37.

CONTI, Luciane de. O brinquedo de Pré-Escolares: Um espaço de Ressignificação Cultural. Disponível em:< http://www.scielo.br> Acesso em 13 nov. de 2014.

Marcela de Sousa Costa

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