Ensaio PIÁ
2014
Equipamento:
Centro Cultural da Penha
Linguagem:
Teatro
Artista Educadora: Tatiane
Lustoza
Amor + União + Trabalho
+ Dedicação + Emancipação Artística + Autonomia
=
Realização e
Concretização
Quando tive conhecimento sobre as diretrizes do PIÁ, senti na
hora que o trabalho que desenvolvo na Trupe Sinhá Zózima, poderia contribuir de
alguma forma para o programa.
Iniciei as atividades sem muitas expectativas sobre o
resultado final, porque o que importava era se divertir durante o processo.
Na primeira aula com os adolescentes da turma de 11-14 (anos)
do PIÁ, eles disseram que queriam fazer uma peça teatral. Logo percebi que era
necessário estabelecer um diálogo franco e sincero para entender melhor essa
adolescência cibernética e como despertar um real interesse deles pelo processo
artístico que é algo totalmente artesanal e que não dá resultado imediato como
eles estão acostumados.
Certo dia, pedi para eles contarem algo interessante de suas
vidas e todos responderam que a vida não tinha nada de interessante, e que muitas
vezes era chata e que se pudessem, gostariam trocar de vida e ser outra pessoa.
Essa informação me deixou intrigada.
À partir disso decidi propor o seguinte exercício: que cada
um levasse um elemento de cada um dos cinco sentidos (tato, olfato, paladar,
audição e visão) que tivesse alguma importância em suas vidas e era necessário
que cada um explicasse sobre a sua escolha.
No dia de apresentar os materiais, ocorreu algo fantástico
porque expuseram seus medos, angústias, alegrias e sonhos de uma maneira tão verdadeira,
pura e poética que compreenderam a importância daquele momento e daquela vivência.
Após encerrar essa etapa, pedi que escrevessem sobre a
experiência. Para a minha surpresa e da Paula Barison (artista educadora de
música), eles escreveram textos belíssimos e um deles quero compartilhar com
vocês.
À VIDA
Quem diria que uma “menina perfeita”
Com saúde e educação,
Teria alguma tristeza
Em seu coração.
A alegria
também existe,
Mas a agonia
sempre insiste.
Com uma palavra consigo dizer
“ o que é vida”?
É simplesmente
uma corrida,
E nela temos que ter
Muita força e felicidade
Para encarar
Essa difícil sociedade.
Mas não devemos
Ter pena dessas pessoas.
Encare isso como uma cena,
E nessa cena,
Todos somos os atores,
Que vivem uma peça
Cheia de cores.
Uma vida colorida,
Sem pensar no que ser,
Sem ser uma vida linda,
Só precisando saber viver.
Pois é assim que somos
Pelo menos para mim.
Por isso que crescemos.
Porque o ato de crescer
É saber viver,
Sempre amadurecer
E entender.
Mesmo sendo uma grande menina
Muita gente
Acha que sou pequenina
Para entender o que a sociedade sente,
Mas todos estão enganados
Sobre esses fatos,
Eu sou a única que sei
Porque sou eu que controlo meus atos.
E para mostrar que gosto da minha vida,
Fiz essa poesia
Para demonstrar a minha alegria!
Autora:
Giovanna Monteiro Ciampone –12 anos -
18/06/2014
Após ler esse texto e vários outros, reconhecemos que aquele
material tinha um grande potencial artístico e dialogamos com a turma sobre a
possibilidade de escreverem o texto do espetáculo. Todos ficaram muito
entusiasmados com a ideia e à partir daí iniciaram o processo de construção do
texto.
Quando o texto ficou pronto a turma percebeu que o espetáculo
teria custos como cenário, figurino, adereços etc. e vieram nos questionar de
onde viriam os recursos para a realização da peça. Nesse momento explicamos que
tínhamos que resolver a situação de forma criativa, porque não existe verba
destinada para isso. Para tentarmos resolver essa situação, perguntei o que
elas sabiam fazer. Algumas disseram que sabiam fazer trufas de chocolate,
outras sabonetes caseiros, caixinhas decoradas, algumas se diziam excelentes
vendedoras, enfim... tinham muitas habilidades que poderiam contribuir para
angariar verba para realizar o trabalho. Para iniciarem as atividades, eles
pediram para os pais emprestarem uma pequena quantia de dinheiro que seria
devolvida assim que os produtos fossem vendidos (o empréstimo não era
obrigatório) e conseguiram R$ 120,00 (cento e vinte reais). À partir daí,
confeccionaram os produtos e foram divididos em 2 (dois) grupos para iniciar o
processo de vendas nos comércios da região com a supervisão das AEs. Para não
prejudicar o processo artístico, as vendas ocorreram em 2 (dois) dias, sendo
disponibilizado apenas 1 (uma) hora. E os outros dias venderam para parentes e
amigos fora do horário do PIÁ. Em 7 dias de trabalho arrecadaram R$ 1.000,00
(mil reais). Com esse dinheiro foi possível comprar figurinos, adereços
cênicos, alugar equipamento de som etc.
O fato de terem feito esse esforço, fez com que olhassem para
o trabalho de uma maneira diferente, fez com que valorizassem cada encontro e
dessem o seu melhor para a realização da peça. A união e valorização do grupo,
a autoestima, o sentimento de capacidade e de pertencimento com o trabalho se
tornou grandioso e precioso.
Na reta final do processo, fizemos um ensaio aberto para os
pais. Muitos ficaram surpresos pelo fato dos filhos se dispuserem a encenar,
escrever a peça e a música do espetáculo. Vários pais deram sugestões incríveis
para melhorar o trabalho e foi maravilhoso ver a alegria deles por ter a
oportunidade de estabelecer um diálogo artístico com os seus filhos. Nesse
momento percebi que o PIÁ transcendeu a estrutura arquitetônica do CCP e
permitiu que essas famílias vivessem algo realmente especial.
Com esse trabalho, sinto que plantamos uma semente para eles
compreenderem os mecanismos para a realização de uma ação cultural e que mesmo
com todas as limitações é possível o artista existir, criar e realizar seus
trabalhos. Também perceberam que a união do grupo é uma força decisiva para a
concretização de qualquer trabalho e que a arte é uma ferramenta genuína de
expressão e que pode e deve ser utilizada por todos.
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