ARTE EDUCADORA: SELMA
DE AGUIAR
ARTES VISUAIS
BIBLIOTECA MARCOS REY
Novembro de 2014
Criança: o
que pensa? O que sente ? como se comunica?
Se num passado
recente havia
um anseio de pais e educadores para
habilidades específicas em relação à criança, inclusive a criança pequena, hoje existe um olhar para a criança em sua
estrutura básica e necessidades essenciais.
A criança, principalmente a pequena, vive
na sua corporalidade.
É através de seu corpo e seus sentidos que experencia o mundo e é da qualidade dessas experiências
que depende parte importante de seu desenvolvimento.
A “ inteligência corporal” fruto de um experenciar constante com o corpo
aumenta e diversifica sinapses cerebrais, desenvolve a psicomotricidade, noção
espacial, e traz competência ao corpo para se relacionar de diferentes formas
com o mundo que cerca.
Quando pensamos em inteligência corporal podemos lembrar-nos
de um esportista que supera recordes,
mas ideia aqui é bem diferente.
A primeira
tarefa da criança é sentir seu
próprio corpo e isso inclui da ponta do nariz aos dedos dos pés. Isso corresponde
dizer que todas as áreas do corpo devem em algum momento entrar no campo de
percepção da criança e ser experenciado para depois ser
assimilado pelo cérebro e constar como um repertório pessoal. Existem
muitas áreas do cérebro a serem ativadas bem como existem diversas formas da
criança se expressar com o mundo e perceber-se.
Bons repertórios representam
a possibilidade de uma maior exploração dos movimentos, adequação dos
gestos, possibilidades de expressão e de reconhecer-se a si mesmo. Se uma forma de fazer não é tão boa existem 30 outras para chegar ao resultado esperado.
Educadores são parceiros no desenvolvimento. Alguns colocam pedrinhas numa bacia de agua e a
criança “pesca” com os dedinhos dos pés.
Se a agua é quente a sensação é uma e se é fria
a experiência se transforma.
As brincadeiras com terra se diferenciam das brincadeiras na
água ou com o ar e o fogo.
Se for dia, se é noite, se é verão se é inverno.
Correr ao vento pode
trazer sensações bem significativas para
o corpo.
Das experiências consecutivas com o corpo a criança começa a
mapear-se e conhecer-se.
Brincar , brincar e
brincar.
Quanto mais presente em suas experiências e quanto mais essas forem adequadas, mais seu
corpo ganhará competências e mais a
criança se apoderará do corpo em plena consciência.
Esse apoderamento significa que seu corpo se expressa a partir de sua vontade e a vontade é inerente a
individualidade da criança.
Uma criança que não desenvolveu sua corporalidade não se expressa corporalmente da mesma forma
de outra que desenvolveu.
O corpo é uma potencia cognitiva.
Temos na corporalidade e na vontade elementos essenciais para se falar de uma criança,
mas se não unirmos a esses dois primeiros um terceiro elemento ficará difícil compreender
o ser da criança: a criança é um ser imaginativo.
Pode-se argumentar que muitos adultos o são, mas mesmo
assim a imaginação ocorre com muitos diferenciais na criança.
Se a imaginação é
mais ligada ao pensar no adulto, na
criança o é na sua corporalidade e na sua vontade.
Um adulto só consegue brincar se migra de seu denso mundo pensante para sua corporalidade e não raro tem um insight de sua infância.
Se unirmos a corporalidade com a vontade e a imaginação
temos a base da vida infantil.
Então toda a educação infantil deve considerar esses
elementos e todo educador infantil deve saber migrar para sua própria
corporalidade e expressar sua vontade de forma imaginativa/ criativa para realmente interagir com o ser da criança.
Alguns autores ( Luiza
lameirão, Bernard Lievgoud , Christopher
Clouder, etc) ponderam que o pensar na
criança é diferente do pensar do adulto embora
a criança não esteja em condição inferior por causa disso.
Somente a partir dos
12 anos uma criança desenvolve um pensar
próprio causal( causa e efeito) que bem depois desemboca no pensar abstrato
comum aos adultos.
Esses autores chamam o pensar característico da criança de
pré racional ou simplesmente pensar
imaginativo.
Muito mais ligado ao sentir
o pensar imaginativo se liga mais as vivencias que a razão.
Quando um adulto
recorda a infância em insights significativos sua alma é invadida por cheiros sensações e imagens e não existe nenhum distanciamento das experiências e estas ressoam
por todo o ser. Artistas referem essa “experiência” em momentos performáticos.
Uma criança pode ter desinteresse e dificuldade em ouvir uma
leitura breve e de fácil compreensão
sobre um tema recheado de
argumentos e razão. Porém sua alma não
tem dificuldade nenhuma em se ligar e ouvir
atentamente por longo tempo ( dias seguidos ) um
conto de fadas ou contos da carochinha complexo e repleto de personagens e situações diversas, inclusive com palavras desconhecidas.
A linguagem imaginativa dos contos bem como de muitos
educadores que desenvolvem “intuitivamente” essa linguagem
atua diretamente no ser da criança e promove a cognição desenvolvendo o pensar
de forma harmoniosa e prazerosa. Essa linguagem “fala” ao corpo, ao
sentimento, a vontade e por isso é adequada à criança.
Na história da metodologia educacional os currículos foram determinados para se atingir um fim e considerar a
criança pelo que deverá produzir futuramente. O jardim da infância tenta se aproximar do primeiro ano e emancipar a criança recheando seu currículo
com figuras que dependem da abstração do pensar.
Hoje é muito necessário atualizar e aprofundar os saberes para que se
possa testemunhar as incoerências na educação - o
essencial não é considerado - e fortalecer uma pedagogia que respeita o tempo que as
crianças necessitam para amadurecer, que
valoriza cada etapa e que favorece um
desabrochar integral.
Essa é uma educação que respeita a essência humana e promove a individuação porque cada ser humano é único e seu
desenvolvimento deve proporcionar-lhe autonomia
e liberdade.
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