quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Criança. O que pensa? O que sente ? Como se comunica?




ARTE EDUCADORA: SELMA  DE AGUIAR

ARTES VISUAIS

BIBLIOTECA MARCOS REY

Novembro de 2014



Criança: o que pensa? O que sente ? como se comunica?

Se num  passado recente   havia  um anseio de pais e  educadores para habilidades específicas em relação à criança, inclusive a criança pequena,  hoje existe um olhar para a criança em sua estrutura  básica  e  necessidades essenciais.

A criança, principalmente a pequena,   vive na sua corporalidade.

É através de seu corpo e seus sentidos que   experencia  o mundo e é da qualidade dessas experiências que depende parte importante de seu desenvolvimento.

A “ inteligência corporal” fruto  de um experenciar constante com o corpo aumenta e diversifica sinapses cerebrais, desenvolve a psicomotricidade, noção espacial, e traz competência ao corpo para se relacionar de diferentes formas com o mundo que cerca.

Quando pensamos em inteligência corporal podemos lembrar-nos de um esportista que  supera recordes, mas ideia aqui é bem diferente.

A primeira   tarefa  da criança é sentir seu próprio corpo e isso inclui  da ponta do  nariz aos dedos dos pés. Isso corresponde dizer que todas as áreas do corpo devem em algum momento entrar no campo de percepção da criança e ser experenciado  para  depois ser  assimilado pelo cérebro e constar como um repertório pessoal. Existem muitas áreas do cérebro a serem ativadas bem como existem diversas formas da criança  se expressar  com o mundo e perceber-se.

Bons repertórios representam  a possibilidade de uma maior exploração dos movimentos, adequação dos gestos,   possibilidades de expressão e de  reconhecer-se a si mesmo. Se uma forma de fazer  não é tão boa existem  30 outras para chegar ao resultado esperado.

Educadores são parceiros no desenvolvimento. Alguns  colocam pedrinhas numa bacia de agua e a criança  “pesca” com os dedinhos dos pés.

Se a agua é quente a sensação é uma  e se é fria  a experiência se transforma.

As brincadeiras com terra se diferenciam das brincadeiras na água  ou com o ar e o fogo.

Se for dia, se é noite, se é verão se é inverno.

Correr   ao vento pode trazer sensações bem  significativas para o corpo.

Das experiências consecutivas com o corpo a criança começa a mapear-se e  conhecer-se.

Brincar , brincar e  brincar.

Quanto mais presente em suas experiências  e quanto mais essas forem adequadas, mais seu corpo  ganhará competências e mais a criança  se apoderará do corpo em plena consciência.

Esse apoderamento significa que  seu corpo se expressa a partir  de sua vontade e a vontade  é inerente a individualidade da criança.

Uma criança que não desenvolveu sua corporalidade não se expressa corporalmente da mesma forma de outra  que desenvolveu.

O corpo é uma potencia cognitiva.

Temos na corporalidade e na vontade elementos essenciais para se falar de uma criança, mas  se não  unirmos a esses dois primeiros  um terceiro elemento ficará difícil compreender o ser da criança: a  criança é um ser imaginativo.

Pode-se argumentar que muitos adultos o são, mas mesmo assim  a imaginação  ocorre com muitos diferenciais na criança.

Se a imaginação  é mais ligada ao pensar  no adulto, na criança o é na sua corporalidade e na sua vontade.

Um adulto só consegue brincar se  migra de seu denso mundo pensante para  sua corporalidade e não raro tem um insight  de sua infância.

Se unirmos a corporalidade com a vontade e a imaginação temos a base da vida infantil.

Então toda a educação infantil deve considerar esses elementos e todo educador infantil deve saber migrar para sua própria corporalidade e expressar sua vontade de forma imaginativa/ criativa  para realmente interagir  com o ser da criança.

Alguns autores  ( Luiza lameirão,  Bernard Lievgoud , Christopher Clouder, etc) ponderam  que o pensar na criança é diferente do pensar do adulto embora  a criança não esteja em condição inferior por causa disso.

Somente  a partir dos 12 anos uma criança  desenvolve um pensar próprio causal( causa e efeito) que bem depois desemboca no pensar abstrato comum aos adultos.

Esses autores chamam o pensar característico da criança de pré racional ou simplesmente pensar imaginativo.

Muito mais ligado ao sentir  o pensar imaginativo se liga mais as vivencias que a razão.

Quando um adulto  recorda a infância em insights significativos   sua alma é invadida por cheiros  sensações e imagens e não existe nenhum distanciamento das experiências e estas ressoam por todo o ser. Artistas referem essa “experiência” em momentos performáticos.

Uma criança pode ter desinteresse e dificuldade em ouvir uma leitura breve e de fácil compreensão   sobre um tema  recheado de argumentos e razão. Porém  sua alma não tem dificuldade nenhuma em  se ligar e ouvir atentamente  por longo tempo (  dias seguidos  )  um conto de fadas ou contos da carochinha complexo e  repleto de personagens e  situações diversas,  inclusive com palavras desconhecidas.

A linguagem imaginativa dos contos bem como de muitos educadores que desenvolvem “intuitivamente” essa linguagem atua diretamente no ser da criança e promove a cognição desenvolvendo o pensar  de forma harmoniosa e prazerosa. Essa linguagem “fala” ao corpo, ao sentimento, a vontade e por isso é adequada à criança.

 Na história da  metodologia educacional  os currículos foram determinados  para se atingir um fim e considerar a criança  pelo que deverá  produzir futuramente. O  jardim da infância  tenta se aproximar do primeiro ano  e emancipar a criança recheando seu currículo com  figuras  que dependem da  abstração do pensar.

Hoje é muito necessário atualizar  e aprofundar os saberes para que se possa  testemunhar  as incoerências na educação - o essencial não é considerado - e fortalecer uma  pedagogia que respeita o tempo que as crianças  necessitam para amadurecer, que valoriza cada etapa e que favorece  um desabrochar integral.

Essa é uma educação que respeita  a essência humana e promove a individuação porque  cada ser humano é único e seu desenvolvimento deve proporcionar-lhe autonomia e liberdade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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