Ensaio Pesquisa- Ação: Edicléia Plácido Soares
Lei 8666, A
Improvisação e Afetos
Busca-se a improvisação no melhor sentido da palavra, longe
dos desentendimentos que consideram o termo índice de displicência, coisa mal
feita ou mal planejada busca-se por uma improvisação que nos torne atentos,
sensíveis ao aqui e agora, ágeis em criar composições e reelaborações de
percursos a partir de vivências, experiências e reflexão sobre situações
concretas e prementes.
Aspiramos a uma improvisação atenta, que busca coerência numa trama que é realizada em tempo real entre equipamento, equipe, comunidade e secretaria de cultura. A improvisação enquanto estratégia de diálogo com a criança, o entre que se estabelece: uma proposta adulta duplicada por dois artistas educadores e a percepção da criança.
Aspiramos a uma improvisação atenta, que busca coerência numa trama que é realizada em tempo real entre equipamento, equipe, comunidade e secretaria de cultura. A improvisação enquanto estratégia de diálogo com a criança, o entre que se estabelece: uma proposta adulta duplicada por dois artistas educadores e a percepção da criança.
Uma lei existe numa cidade para regular relações entre as
pessoas, e no caso do PIÁ para regular a relação entre os artista-educadores e
a instituição.
Segundo a lei 8.666, que regulamenta o PIÁ, somos prestadores de
serviço e nosso contrato é comparável às
vezes mais, ou às vezes menos, a uma licitação de materiais para consumo
qualquer, certo que tivemos alguns avanços, mas a realidade de um artista educador
continua a mesma, a mercê dos intempéries
de uma doença, gravidez , e outros eventos e subjetividades que não constam
numa lei de prestação de serviço ou num regimento interno. Junto à lei, vem a
concretude e dureza de um edital e a realidade concreta às vezes acolhedora às
vezes dura de cada equipamento.
Porém, podemos dizer que o programa PIÁ depende muito da
subjetividade dos afetos que se estabelecem entre o programa e o equipamento,
relação regulamentada pela subjetividade na maioria dos equipamentos, na
subjetividade dos afetos que se estabelecem entre os artista educadores de uma
mesma equipe, dos afetos que estabelecem entre a equipe e a figura do ae
coordenador e dos afetos que se estabelecem entre parceiros artistas educadores
e a criança.
Mas como
manobrar estas três instâncias? Como traduzir a lei em ações coerentes e
humanas dentro de um processo artístico pedagógico e dentro da realidade de uma
equipe de artistas educadores que são necessários um para o outro?
A possibilidade que encontramos para lidar com estas três
instâncias enquanto equipe foi a de criar um regimento interno, ético e
colaborativo do PIÁ no CEU Lajeado, este regimento teve por princípio o
respeito ao parceiro, à criança e comunidade,
bom senso e confiança na
maturidade de cada um para trabalhar no programa uma vez que todos passaram por
um processo seletivo. Este regimento não foi escrito e protocolado em nenhum
lugar mas se estabeleceu através da colaboração mútua e
responsabilidade. Para tanto fomos buscando na improvisação estratégias de sobrevivência entre o visível e o invisível
do edital, o tocável e o tocante do dia a dia do processo com cada parceiro e com as crianças para compreender e
decifrar o ambiente, os humores de quem nos rodeia enquanto parceiros, facilitadores e
simpatizantes do PIÁ no CEU Lajeado.
Sempre ouço dizer que a função de ae coordenador é uma função esquizofrênica, pois
está ao mesmo tempo no equipamento participando e criando junto com as crianças
e com o parceiro no processo artístico pedagógico desenvolvido, e ao mesmo tempo está
presente em reuniões na secretaria de cultura que são muitas vezes abstratas,
burocráticas, enfadonhas e em alguns poucos momentos poéticas.
Neste ano de 2014
refleti sobre esta questão e meu trabalho foi tentar desconstruir essa figura
do coordenador que as pessoas têm quando chegam pela primeira vez no programa,
ou desconstruir a visão que a sociedade nos induziu a ter, embora o Piá seja um
programa que aspira pela horizontalidade
esta horizontalidade que só acontecerá
se pusermos em prática o desapego á centralização da figura do coordenador em
todas suas esferas, que perante a
sociedade e as estruturas administrativas tradicionais é o propositor, o
produtor, o provedor de conhecimento e
experiência. Mas descentralizar
significa dividir responsabilidades e tarefas, e cabe a nós refletirmos se
estamos suficientemente maduros para aceitar responsabilidades e tarefas sem
imaginar que seremos o salvador da pátria.
Sempre perdemos tempo falando de relações políticas e nos esquecemos
de citar o quanto os processo criativos com as
crianças ajudam a desconstruir esta relação tradicional que se estabelece a
princípio dentro da equipe.
Somente quando todos se colocam como artistas educadores e
co-criadores dos processos com as crianças que o obvio emerge, assim como os
afetos: impossível criar e desenvolver
um processo de parceria com alguém que você não gosta, não criou vinculo ou
afinidade nenhuma, esta afinidade em maior ou menor grau com o tempo acaba
acontecendo, e quando isto não acontece, o que acho quase impossível, lembramos
que temos um projeto comum, somos
profissionais, recorremos ao edital e a esta lei tão limitada que regula nossas as relações.
O que gera o desentendimento é o ouvido e o olhar viciado,
obsessivo, que está na defensiva esperando ver e ouvir o esperado, que não
espera mudanças de postura, que não está aberto a um discurso de quem de
repente tenta se renovar, arejar, arriscar.
E sinto que neste ano de 2014 arriscamos mais neste sentido da
desconstrução, uma desconstrução que não foi fácil, chegamos bem próximos a
abismos e quase nos diluímos na tentativa de explicar o obvio.
Enquanto equipe de artistas educadores fomos porosos e
aproveitamos os bons ventos que as fricções e angústias gerais produziram, nos conectamos com redes importantes de
valorização dos princípios que o PIÁ tanto acredita, a Ludicidade, a Iniciação, o Tempo de
Experimentar, o Processo Criativo, Diálogo, o Pertencimento: realizamos a “Semana do Brincar” no
equipamento, participamos do “Encontro PiÁ, Vocacional e EMIA”, integramos a “Mostra
do Encontro Crianças Criando Dança”. Isto tudo porque os processos foram
maiores e venceram os desentendimentos, as obsessões, os fantasmas... Aliás eles
se tornaram um grande mote no processo desenvolvido com as crianças.
Ensaio
Pesquisa Parte II
Processos
com as Crianças
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