domingo, 3 de janeiro de 2016

ILO KRUGLI, VENTOFORTE E A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA EM ARTES INTEGRADAS de ELIANE WEINFURTER

ILO KRUGLI,
TEATRO VENTOFORTE
E A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA
EM ARTES INTEGRADAS

Eliane Weinfurter dos Santos

Ilo Krugli, criador do Teatro Ventoforte. Foto: Pollyanna Diniz
Foto: Pollyana Diniz


Em 1991 fui avisada por uma amiga de um Curso de Teatro gratuito que estava acontecendo em uma Biblioteca em Santo Amaro.
Fui pra lá sem saber ao certo o que aconteceria. Até então tinha feito teatro na escola e fazia parte de um grupo que ensaiava aos finais de semana em uma garagem.
Muitos professores e músicos e ele: ILO KRUGLI. O Diretor do Teatro Ventoforte.
O Curso fazia parte de um Projeto chamado MIGRAÇÕES e acontecia em quatro lugares de São Paulo: zona sul (Santo Amaro e M´Boi Mirim), zona oeste (Butantã), zona leste (Mutirão São Francisco ) apoiado pela Prefeitura de São Paulo à época da gestão de Luiza Erundina.
Improvisos com coisas simples: papéis, jornais, barbantes e a música executada ao vivo, sempre presente, dialogando com o que se estava sendo feito nas cenas, ora pontuando, ora contrapondo ritmos e imagens.
Certa vez houve um improviso em que cada um tinha uma folha de jornal para criar algo que durasse alguns segundos. Desespero. O que fazer? Lembro que a mesma amiga que me apresentou o Curso, Adriana Diniz, pendurou a folha de papel em um barbante à sua frente, ficou parada atrás e mesmo tendo começado o improviso, ainda não sabia o que fazer. Silêncio e espera de todos. De repente começou a rasgá-la lentamente e daí a beleza do trabalho. Do jornal sendo rasgado e do som produzido, vieram imagens que estão em mim até hoje. Da simplicidade da construção de algo tão simples mas que, impossível distanciar os olhos de alguém que está totalmente entregue a essa ação, de corpo, alma, suor e respiração.
Não lembro o que eu fiz!
Primeiro curso de teatro, não cheguei com fórmulas nem com molduras, nem querendo me amparar em textos ou teóricos. Vinha tão somente eu vazia e fui me completando, me deixando levar pelo vento que me inspira até hoje, com todos aqueles sons, palavras, gestos e imagens e as possibilidades de se fazer o simples.
Depois de um determinado tempo do curso, a verba acabou e Ilo convidou a todos para continuarem os experimentos na sede do grupo. Um lugar lindo no Itaim Bibi, cercado de árvores, três espaços de encenação (teatro dos pés, teatro das mãos e teatro dos olhos) e um coreto.
Encantamento.
O curso seguia. A quantidade de pessoas foi diminuindo como em todo curso de duração mais prolongada.
Certo dia, depois da divisão em pequenos grupos, ensaiamos uma cena com apoio da Professora Fátima Campidelli. Ilo quis assistir a todas e assim fomos, em pânico, apresentar para ele, para os demais professores e para os outros participantes do curso.
Semanas depois veio o convite para integrar o elenco da remontagem de HISTÓRIAS DE LENÇOS E VENTOS.
Este espetáculo que aconteceu a primeira vez em 1973 foi um marco na dramaturgia para crianças.
Ilo recebeu um convite para apresentar algo no Festival de Curitiba. Então, ele e grupo, ensaiaram por doze dias. A cada dia Ilo escrevia um trecho do espetáculo e Caique Botkay simultaneamente escrevia as músicas.
Com alguns objetos, papéis, latas, panos, lenços...e alguns bonecos que nem foram utilizados, surgia o espetáculo. O trabalho foi muito bem recebido e o entusiamo fez com que continuassem no Rio de Janeiro as temporadas no MAM onde passaram mais de cem mil pessoas durante todo aquele ano e depois fizeram dois ou três meses no Teatro Opinião.
O nome definitivo do grupo veio depois de uma matéria de jornal de duas páginas de Ana Maria Machado, cujo título era “Vento forte no teatro para crianças do Brasil”. Ela dizia no texto que o teatro para crianças no Brasil estava dividido entre antes e depois de Lenços e Ventos.
Surgia o Ventoforte.
Lenços e Ventos conta a história de Azulzinha, um lenço que simboliza a liberdade e sai voando. Acaba presa em um Castelo do Rei Metal Mau (feito de latas) até que Papel, o herói (uma folha de jornal onde eram pintados os olhos e a boca) consegue salvá-la com a ajuda de todos os lenços do quintal.
À época da remontagem do espetáculo, acontecia o Curso de Formação de Atores do Teatro Ventoforte. E lá pude aprofundar o aprendizado.
Como explicar?

O teatro é realizado com o Imaginário, para desenvolver o imaginário, e para isso acontecer estabeleceu-se a intrincada rede de relações entre os estímulos através do corpo, da música e da dança, das artes plásticas e dos objetos do cotidiano, o individual estimulando o coletivo e vice-versa” (CAVINATO, 2003).


No curso que acontecia de segunda a quarta feira, no período da noite, tínhamos encontros às segundas e terças com Ilo, e quarta-feira tínhamos aulas de canto com Ricardo Nogueira e danças brasileiras com Tião Carvalho do Grupo Cupuaçu.
Caminhadas pelo espaço em diferentes direções e velocidades iam lavando o corpo e a mente das inquietações cotidianas e a música sempre executada ao vivo acelerava este processo de imersão, de quase sonho em que imagens e sensações podiam surgir nas improvisações, nos diálogos corporais. Abria-se esse espaço para que a mente fluísse em imagens e sons. O espaço para o ritual estava instalado.
Antes e depois dos exercícios, a roda, no círculo ancestral todos falavam e compartilhavam as vivências. Ilo observava sempre atento, comentava imagens que também para ele apareciam, orientava antes, durante e no fim.
Do curso participavam atores, com e sem experiência, mas também músicos, artistas de outras áreas, psicólogos, terapeutas.
Dois anos de aprendizado concomitantemente ao espetáculo Lenços e Ventos. Em busca de uma espontaneidade difícil de se encontrar e quando encontrada como mantê-la com o frescor do primeiro dia? Essa busca que permanece sempre, a cada novo trabalho, porque um ator nunca está pronto.
Dois anos de observação da natureza que rodeava os teatros, das plantas e bichos, buscando nessa natureza as folhas, as pedras, o pé na terra, as sementes que comporiam a poética de cada encontro.
Entre os muitos temas: os quatro elementos da natureza, água, ar, fogo e terra. E os sonhos.
Além de propostas que incluíam cadernos de diários, desenhos, os mapas da vida, tantos e tantos elementos que forjaram a atriz que sou hoje.
A base do trabalho é a criatividade e a imaginação. Além das festas populares brasileiras que encantaram tanto este argentino radicado no Brasil há mais de 40 anos. Ilo diz que seu teatro é improvisado, mas não tão improvisado assim. É um trabalho artesanal e dos mais antigos, a raiz da expressão do ser humano.
“O teatro como forma de conhecimento, forma de desvendar enigmas, ajuda a conhecer a realidade e a si mesmo” Ilo Krugli, in. Cavinato (2003).
No Ventoforte você não é só atriz ou ator, você também é artesão. Faz os bonecos, costura as roupas, cria e recria, faz o café, pinta o cenário, limpa o palco, da mesma forma que  em alguns pouco grupos ainda todos fazem tudo.

“(...) a integração das Artes tem o teatro como um núcleo. A imaginação é considerada o centro irradiador de toda criação. Dança, música, literatura, poesia, contos de tradição oral, contos de autor, contos de fadas, mitos, artes plásticas, teatro de bonecos e animação de formas são integrados na mediação da aprendizagem simbólica e na formulação das experiências interiores tornando-as concebíveis.” (CAVINATO, 2003)



Desta experiência de fazer tudo, vivenciamos as artes integradas cotidianamente nas criações de espetáculos e na observação como estagiária das aulas para crianças e adolescentes que aconteciam no Ventoforte aos sábados. Tudo isso me ajudou e ajuda muito neste Ser e Estar do Piá, nas minhas pesquisas e com as crianças por ser o Piá este espaço de criação compartilhada e em que as fronteiras entre as linguagens são fluidas ou como em algumas crianças, esta fronteira é inexistente pois ela brinca, canta, dança, conta histórias desde os primeiros anos de vida.

“Acredito muito nessa coisa de educação pela arte, sempre penso no tanto que se poderia fazer colocando o processo da arte na frente até das informações intelectuais. E quanta gente talentosa e criativa apareceria. A educação oficial imobiliza, engessa. (…) Todos nós temos o potencial da linguagem de expressão, que é desenhar, falar, pintar, dançar, mas o que vemos é tudo endurecido. (…) Tem o talento nato, mas talento também se conquista” (2009)

Ilo Krugli aprendeu a fazer bonecos aos 8 anos com sua professora que aprendeu com o titiriteiro argentino Javier Villafãne  Antes disso já fazia teatro nas escadarias de casa, ora colocando o público na escada ora fazendo da escada, palco.
Disse que certa vez fez teatro com bolinhas de gude em uma lata de metal (dessas de marmelada) e ao ler isso lembro-me do poema do Manoel de Barros, A Lata.

Estas latas têm que perder, por primeiro, todos os ranços (e artifícios)
da indústria que as produziu. Segundamente, elas têm que adoecer na
terra. Adoecer de ferrugem e casca. Finalmente, só depois de trinta e
quatro anos elas merecerão de ser chão. Esse desmanche em natureza é
doloroso e necessário se elas quiserem fazer parte da sociedade dos
vermes. Depois desse desmanche em natureza, as latas podem até
namorar com as borboletas. Isso é muito comum. Diferentes de nós as
com o tempo rejuvenescem, se jogadas na terra. Chegam quase até
de serem pousadas de caracóis. Elas sabem, as latas, que precisam
chegar ao estágio de uma parede suja. Só assim serão procuradas pelos
caracóis. Sabem muito bem, estas latas, que precisam da intimidade com
o lodo obsceno das moscas. Ainda elas precisam de pensar em ter raízes.
Para que possam obter estames e pistilos. A fim de que um dia elas
possam se oferecer às abelhas. Elas precisam de ser um ensaio de árvore
a fim de comungar a natureza. O destino das latas pode também ser
pedra. Elas hão de ser cobertas de limo e musgo. As latas precisam
ganhar o prêmio de dar flores. Elas têm de participar dos passarinhos.
Eu sempre desejei que as minhas latas tivessem aptidão para
passarinhos. Como os rios têm, como as árvores têm. Elas ficam muito
orgulhosas quando passam do estágio de chutadas nas ruas para o
estágio de poesia. Acho esse orgulho das latas muito justificável e até
louvável.
(Manoel de Barros)


Do seu Ventoforte já voaram peças, bonecos, para outros palcos, para outros Estados e estados, para outros países. Já se criaram atrizes e atores que floresceram.
Ilo escreveu neste último ano um livro de poesia e segundo um amigo tudo, absolutamente tudo foi tema e tornou-se vivo pelas mãos deste artista. (Ainda não foi editado)
Assim como em seus espetáculos, como Lenços e Ventos, que torcíamos pela vitória do Papel, aquela folha de jornal que vira cinzas em cena e ressuscita e consegue salvar sua amada Azulzinha, somos levados pela imaginação e pela criatividade deste senhor poeta e acreditar que tudo pode ter vida.
Na baixa estatura corporal, mora um Gigante.
Por ele e por seu teatro, muitos redescobriram o quintal de sua infância. Relembraram. Reviveram.
Mas não se engane ao pensar que Ilo Krugli só faz espetáculos para crianças, nunca espetáculos infantis. Ele também faz e muito bem espetáculos para adultos e para todas as idades como o Portal das Maravilhas, em que falava da Inquisição e na sua costura de textos coube uma homenagem à Mãe Coragem de Bertold Brecht, quando acontece a cena da Muda (Eliane Weinfurter) tocando tambor e sobre a ditadura do Chile: estava presente no último discurso de Allende. O convidou para ir assistir ao espetáculo que estava fazendo e teve como resposta: “Eu gosto muito de crianças, também sou uma criança que às vezes gosta de jogos perigosos”. Logo em seguida aconteceu o Golpe.
Fez ainda Círculo de Giz Caucasiano de Bertold Brecht e prólogo de Plínio Marcos, Tempestade de Shakespeare, entre outros espetáculos para adultos. Não posso esquecer de citar os espetáculos em que fazia homenagem a Federico Garcia Lorca, como Sete Corações- Poesia Rasgada, Choro Lorca, Pequenas Histórias de Lorca.
Ilo completou 85 anos no dia 10 de dezembro de 2015 e como menino dançou cirandas e cantou com todos.
Deixo aqui muito menos do que um ensaio e muito mais um memorial de vivências que tive em doze anos de trabalho com este grupo.
O trabalho do Ventoforte tem muito em comum com o que é feito no Piá, desde muito tempo antes deste Programa existir, com relação ao respeito à criança, as possibilidades de estruturação de cenas e animação com pequenos objetos, bonecos, com o resgate dos quintais das nossas infâncias, com a permissão à imaginação fluir e criar e por isso a escolha deste tema, além da pequena homenagem ao meu Mestre.
Acredito que algumas pessoas não conheçam o Teatro Ventoforte e o seu criador Ilo Krugli. Para estes, espero que esses mínimos relatos possam aguçar a curiosidade em saber mais.
Para os que conhecem ou já viveram o que vivi, segue esse afago feito com as mãos e com o coração.

Para saber mais:
ALBUQUERQUE, Johana. Ilo Krugli In: ______.Enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. São Paulo, 2000. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação Vitae. Ficha curricular.
BUENO, José Marcos Pires. Entrevista concedida a Johana Albuquerque. São Paulo, 30 out. 2001.
COSTA, Mônica R. Peça mostra três em um de Oscar Wilde.Folha de S.Paulo, São Paulo, 18 jun. 1995.Folhinha, p. A-2.
CRONOLOGIA das Artes Cênicas em São Paulo 1975 - 1995. São Paulo: Centro Cultural São Paulo,1996. v. 3.
KRUGLI, Ilo; LARANJEIRAS, L. Carlos. Dez anos teatro ventoforte. Rio de Janeiro,1984. Catálogo comemorativo.
______. Grupo Ventoforte sopra poesia de Lorca.Folha de S.Paulo, São Paulo, 11ago. 1996.Folhinha, p. A-5.



BIBLIOGRAFIA

ABREU, Ieda de. Poesia Rasgada / Ilo Krugli. SP. Imprensa Oficial de SP. 2009

CAVINATO, Andrea. Uma experiência em Teatro e Educação: a história do menino navegador Ilo Krugli e seu indomável Ventoforte. Dissertação de Mestrado. 2003


“Essa menina só faz arte! Ai como esse menino é arteiro!”



“Essa menina só faz arte! Ai como esse menino é arteiro!”

É curioso como a arte está relacionada a tantos outros significados além do sentido da própria arte. A arte muitas vezes considerada qualquer coisa, neste caso do menino arteiro e/ou da menina que só faz arte, está diretamente associada à bagunça. Não tenho pretensão aqui nem muito menos audácia de explicar o que é a arte, mas uma pergunta me intriga: o que é de fato a bagunça? Não seria a bagunça a própria brincadeira? Quando uma criança quebra uma cestinha de porcelana que decora a estante de sua casa porque está correndo pela estrada afora brincando de ser Chapeuzinho Vermelho, estaria esta criança brincando ou fazendo bagunça? Quando uma criança abre o guarda-roupa dos pais e tira tudo do lugar para pegar roupas, adereços e maquiagem para brincar de ser adulto, esta criança estaria brincando ou fazendo bagunça? O imaginário da criança é vasto e capaz de transformar tudo em brincadeira. O olhar da criança é cheio de possibilidades e vê nas pequenas e, aparentemente, fúteis coisas, elementos incríveis. Ela é capaz de transformar uma caixa de leite em uma espaçonave cheia de luzes e cores; um sapato em um barco repleto de passageiros, um bambolê em um volante gigante, e assim por diante.

   Neste ano de 2015, no qual integrei uma das equipes do PIÁ, percebi que a brincadeira, que muitas pessoas confundem com a bagunça, é a própria arte da criança, o jeito que ela encontra de transformar aquilo que ela imaginou em criação. Ao lado de outros educadores: uma atriz, um músico e uma bailarina, eu que estava inserida no Programa como Artista-educadora de Artes Integradas, pude brincar de tudo que se pode imaginar, porque nos permitimos enquanto artistas-educadores adentrar o universo lúdico e mágico das crianças.

Para tanto, algumas perguntas instigavam o nosso trabalho. Como dança o corpo da criança? Dança com os passos de jazz? Dança com as posições do Balé? Dança com os golpes da capoeira? Ou será que quando esse pequeno e flexível corpo desliza no chão como uma cobra, quando pula como um sapo ou quando abre os braços correndo como um pássaro este corpo já não está dançando? 

Como a criança faz música? Ela faz música aprendendo a ler a partitura? Será que ela faz música entendendo ritmo e pulsação? Faz música contando compassos? Ou será que a criança faz música quando bate palma? Faz música quando descobre os sons de objetos que bate no chão ou no próprio corpo? Faz música combinando sons aleatórios da maneira que ela bem entende? Será que faz música quando canta uma cantiga?

Como atua a criança? Atua decorando um texto? Atua decorando as marcas e deixas? Ou atua quando brinca de ser polícia e ladrão? Quando brinca de ser bruxa, príncipe e princesa? Quando brinca de ser um monstro terrível e para isso faz a careta mais assustadora e brinca com sua voz que mais parece um grunhido? Ou será que atua quando enfeita o corpo com adereços e fantasias encontrados no espaço em que está, seja ele qualquer espaço? Qualquer coisa vira qualquer outra coisa. O nada vira tudo.

Para responder estas perguntas na prática, propusemos diversas brincadeiras utilizando as várias artes, mas sobretudo estávamos abertos para as brincadeiras propostas pelas próprias crianças. O brincar foi, portanto, desenvolvido tendo a criança como protagonista das aulas. Sendo assim, percebemos que esse universo da brincadeira permeia todas as linguagens artísticas porque a criança vê o mundo de uma maneira totalmente diferente do adulto. Longe da metodologia, longe das fórmulas, longe da obrigatoriedade. A criança vê o mundo de uma maneira muito mais simples, mais leve e divertida.

            Ao assistir brincadeiras realizadas pelas próprias crianças, nossas propostas pensadas para aquela aula eram modificadas ou incrementadas e o resultado disso era sempre incrível. Brincadeiras com tantas facetas e resultados dos mais diversos. Constatamos assim, que as crianças já trazem dentro de si possibilidades artísticas sem saber que são possibilidades artísticas. O que elas trazem é a imaginação e a ousadia tão essenciais para a arte. E quando penso nisso, lembro sempre da arte dramática que é o jogo, o brincar, e se o teatro parte deste princípio, não poderiam as outras artes partir da mesma essência pensando na infância?

            As crianças possuem um repertório próprio. Repertório de brincadeiras, jogos, ideias, palavras. Sorte dos artistas-educadores que tem a possibilidade de entrar em contato com as crianças e se repertoriar. Mais sorte ainda dos artistas-educadores que estão abertos à troca e ao aprendizado; a falar de igual para igual com os educandos, e vou além, penso então, quem seriam de fato os educandos? Não seríamos todos nós? Todos nós, artistas e crianças que nos propomos a fazer esta grande bagunça coletiva?

            Que bom que “Essa menina só faz arte!” E que ótimo que “esse menino é arteiro!” Afinal, uma criança que não faz bagunça, que não brinca, não está cumprindo o seu papel de criança, o seu papel de brincante. 

Adreísa Cangussú
Artista-educadora PIÁ 
CEU Cantos do Amanhecer